12 de ago. de 2009

O Dia Mundial do Rock

Datas comemorativas, eu sempre tive um ‘pé atrás’ com datas comemorativas. Talvez, porque em sua grande maioria, o lado comercial sempre esteve acima de tudo, o que não foi diferente no caso da criação do ‘Dia Mundial do Rock’. Mas nesse caso, pelo menos foi por uma boa causa. Vamos à história...

No dia 13 de julho de 1985, Bob Geldof, vocalista da banda Boomtown Rats, realizou o Live Aid - festival pelo fim da fome na Etiópia. O festival aconteceu simultaneamente na Filadélfia (EUA) e em Londres (Inglaterra), arrecadou mais de 60 milhões de dólares que foram doados em prol dos famintos na África e reuniu nomes como Black Sabbath (com Ozzy Ousborne), Status Quo, INXS, Loudness, Mick Jagger, David Bowie, Dire Straits, Queen, Judas Priest, Bob Dylan, Duran Duran, Santana, The Who e Phil Collins entre muitos outros. Estava criado oficialmente ‘O Dia Mundial do Rock’.

O Live Aid foi um ‘divisor de águas’, incrementou um conceito novo em relação aos grandes festivais de música, influenciando de maneira decisiva toda uma década de grandes festivais, como o U.S.A. For Africa, Live Aid, Farm Aid, Hear 'n' Aid, Artists Against Apartheid e o Amnesty Internacional, reunindo sempre grandes nomes do mundo pop e rock. Apesar do enorme sucesso do Live Aid, fica o mistério sobre o motivo de não registrar oficialmente o festival, seja em vídeo, CD, ou DVD, talvez e muito possivelmente pela grande quantidade de artistas envolvidos no projeto. Burocracia, direitos autorais, ataques de estrelismo, etc. Nesse caso, parece que a ‘causa’ ficou em segundo plano.

Começo, Meio e Sempre...

“Deixe-me ouvir um pouco desse rock and rollDe qualquer jeito que você escolherTem uma batida marcada, não dá pra errar, com qualquer tempo velho que você usar.Tem que ser música rock and roll, se quiser dançar comigoSe quiser dançar comigo”
“Rock and Roll Music” (Chuck Berry)

Aproveitar cada momento como se fosse o último! Esse era o lema nos Estados Unidos no início da década de 50. O impacto da Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, além do início da “Guerra Fria” entre Americanos e Russos, com o anúncio das bombas atômicas lançadas pela União Soviética, aproximando a humanidade de um possível "fim do mundo", deu força a uma corrente fundamentada na rebeldia, no inconformismo e na vontade de mudar. Estes foram os combustíveis desse movimento quase sexagenário que ainda pulsa nas veias de jovens do mundo inteiro: O rock and roll.

Com suas raízes fincadas na música negra rythm 'n' blues, foi através das vozes de Chuck Berry, Bill Halley, Little Richard, Bo Diddley e Jerry Lee Lewis que foi definido o DNA do rock and roll. O primeiro Hit de sucesso do rock foi "Rock Around The Clock", interpretado por Bill Haley.

“Antes de Elvis, não havia nada”
John Lennon

No dia 5 de julho de 1954, um garoto chamado Elvis Aharon Presley, gravou seu primeiro single, um blues composto originalmente em 1947, chamado “That’s All Right”. A impetuosidade e a irreverência de Elvis fizeram desse single um sucesso estrondoso. Em 1956, é lançado seu primeiro disco, “Elvis Presley”, cercado de canções recheadas de melodias dançantes e letras de amor, que mobilizou um enorme público composto por adolescentes histéricas e hipnotizadas por toda América.

A década de 60 ficou conhecida como os ‘Anos Rebeldes’, graças aos grandes movimentos pacifistas e manifestações contra a Guerra do Vietnã. A Juventude clamava por liberdade e entendeu que tinha na música um aliado.

Esse momento marcou o momento de expansão do movimento. Do outro lado do Atlântico veio a chamada invasão britânica, tomando conta das paradas americanas. Grupos como The Kinks, Animals, The Who, The Faces, Rolling Stones e os Beatles.

Os Beatles ou os ‘Fab Four’, como ficaram conhecidos, tiveram sua estréia nas paradas da Europa e Estados Unidos, em 1962, com a música ‘Love me do’. Em 67, gravam o que possivelmente foi o álbum mais revolucionário da história do rock, Sht Peppers’ Lonely Hearts Club Band. O mundo nunca mais foi mesmo!

Outros grandes nomes que marcaram de maneira decisiva a década de 60 foram os The Monkees, Beach Boys, The Who, The Doors e Pink Floyd.

O rock se reinventou várias vezes na década de 60, seja com a beatlemania, com o rhythm’n’blues britânico dos Rolling Stones, The Yardbirds e Cream, no rock engajado e de caráter sério e político, de contestação e protesto, presente nas letras de Bob Dylan e na psicodelia de Grateful Dead e Jimi Hendrix.

Hendrix elevou o nível da guitarra elétrica no rock, criando uma sonoridade própria, autêntica que influenciou e chamou a atenção de grandes mestres como Eric Clapton, Mick Jagger e até dos Beatles. O sucesso dos seus dois primeiros singles, ‘Hey Joe’ e ‘Purple Haze’ colocou Hendrix entre os grandes da época.

Em 1969, o Festival de Woodstock tornou-se o símbolo de todo este período. Sob o lema "paz e amor", meio milhão de jovens comparecem no concerto que contou com a presença de Jimi Hendrix e Janis Joplin.

O assassinato em dezembro daquele ano, pelos Hell’s Angels”(Motociclistas e umas das facções roqueiras mais violentas dos anos 60) que faziam a segurança privada no concerto dos Rolling Stones em Altamont (Califórnia), de um jovem negro de 18 anos que sacou um revólver e apontou para o palco durante a apresentação da banda, pôs fim ao movimento hippie e toda sua ideologia de “paz e amor”.

Faça você mesmo...

Os anos 70 começaram ainda no final dos anos 60 com o fim dos Beatles. A psicodelia, o glamour, as roupas rasgadas e os cabelos cumpridos deram a tônica ao estilo que começava a tomar diferentes caminhos.

Lá estavam a viagem e a lisergia do movimento progressivo, capitaneados pelo Pink Floyd, Genesis e Yes, o rock glamuroso e visualmente andrógino, representado pelo ‘camaleão’ David Bowie e pelos alucinados integrantes do New York Dolls (que se vestiam de mulher e tocavam como loucos).

Polêmico e barulhento, o Heavy Metal teve como principais representantes bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC e Kiss que realizavam shows grandiosos, com temáticas futuristas e místicas, com uma sofisticação nunca antes vista no rock, arrebatando fãs no mundo inteiro, transformando-os em verdadeiros seguidores (ou adoradores, como queiram), por décadas e décadas. Se o diabo é o pai do rock, ele encontrou no Heavy Metal seu filho mais pródigo.

A pluralidade de caminhos, sons e vertentes dentro do rock, aliados ao avanço comercial da música pop com a criação da disco music e o funk, geraram esteticamente o esgotamento da sua ruptura estética e comportamental. Em Nova Iorque e Detroit, uma cena seria o embrião de um movimento que mudaria definitivamente a cara do rock no final daquela década. Em Nova Iorque, o movimento girava em torno de Andy Warhol, o multiartista pai da Pop Art, com o Velvet Underground, de Lou Reed. Em Detroit, Iggy Pop e os Stooges e o MC5. Esses grupos desenvolveram um rock de vanguarda, com uma temática voltada para as drogas, sadomasoquismo, prostitutas, bissexualidade e questões políticas ligadas ao pensamento de esquerda.

Em 75, Malcom Maclaren, que já tinha sido empresário do New York Dolls, bebe na fonte de um estilo musical que tomara forma em Nova York através dos Ramones e cria a banda que seria um dos maiores fenômenos da história do rock: os Sex Pistols. O lançamento do álbum “Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols”, criou toda a base do movimento punk. Camisetas rasgadas, alfinetes, cabelos coloridos, arrepiados ou no estilo moicano fizeram a moda dos rebeldes londrinos. O sucesso dos Pistols trouxe à tona outras bandas, como o The Clash, formada em 76 na Inglaterra e o Black Flag e o Dead Kennedys nos Estados Unidos.

A década de 80 consagrou o Heavy Metal! Bandas como Black Sabbath( Já com Dio nos vocais), Judas Priest e as bandas da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), principalmente o Iron Maiden lançavam verdadeiros clássicos, alcançando grande popularidade. Importante salientar também da o surgimento de uma nova geração de ‘metalbands’, como Metallica, Megadeth, Anthrax, Slayer, Exodus, Testament, entre tantas outras, que deram um fôlego ainda maior ao movimento, sendo responsáveis por apontar novos caminhos e vertentes para o metal.

O fim do Punk obrigou o rock a se reinventar. De uma forma mais fragmentada ajudou a criar uma geração de jovens melancólicos, com uma rebeldia mais triste, sombria e solitária. O pós-punk tinha como principais representantes o Echo and The Bunnymen e o Joy Division, que contava com a liderança e tristeza do vocalista Ian Curtis, que se mata, aos 22 anos de idade. O resto da banda formaria o New Order. Denominados darks e góticos, outros grandes representantes do estilo foram o Sister of Mercy, o The Mission, o The Cult, o Bauhaus e o mais popular de todos eles, o The Cure.
Mas também havia uma galera que queria fazer música ‘just for fun’, para dançar. Era a new wave. B’52 e o Talking Heads, de David Byrne, trouxeram junto às suas roupas coloridas e gel no cabelo, muita alegria e diversão.

Com certeza, duas das bandas mais famosas nos anos 80 foram o The Smiths e o U2. O Smiths, considerada por muitos como a melhor banda dos 80, apostava na poesia das letras de Morrissey e nas guitarras de Jonnhy Marr. Já os irlandeses do U2 com o seu rock engajado, começaram a fazer sucesso com suas letras voltadas às temáticas sociais e políticas da Irlanda do Norte.

Nos Estados Unidos, Pixies, Fugazi e Sonic Youth criavam o indie pop, enquanto em Manchester (Inglaterra), que já havia revelado para o mundo os Smiths, Joy Division e New Order, surge uma cena musical regada a drogas sintéticas, que tinha como destaques os Happy Mondays e os Stone Roses.

A queda do Muro de Berlim, em 89, fechava as cortinas para o rock oitentista e preparava o terreno para o rock da década de 90. Precisamente em Seattle (EUA), um grupo de garagem preparava-se para lançar por uma gravadora independente um álbum que mudaria completamente a trajetória do rock.

Cheiro de...

Nesse momento, o rock entrava em um estágio de fragmentação e decadência. Algo precisava acontecer. Faltava algo mais visceral ao rock, faltava até dignidade.

Na primeira metade dos anos 90, bandas como Green River, Mother Love Bone, Mudhoney, Soundgarden e Nirvana, com suas letras pessimistas e guitarras distorcidas, criaram um movimento que foi chamado de grunge (sujo, em inglês), como uma estratégia de marketing para divulgar as bandas do cenário, muitas delas lançadas pela gravadora Sub Pop. O grunge de Seattle reinou absoluto na primeira metade dos anos 90, principalmente graças ao Nirvana, liderado por Kurt Cobain. O álbum ‘Nevermind’ é considerado por muitos o primeiro clássico dos anos 90 e “Smells Like Teen Spirit”, hino de toda uma geração.Todo esse sucesso abriu caminho também para outros grupos da cena alternativa fora do grunge, como foi o caso dos Smashing Pumpkins, Janes Adiction, Stone Temple Pilots e do Red Hot Chili Peppers.

Quando Cobain começou a não aceitar (e se aceitar!) o enorme sucesso do Nirvana no ‘mainstream’, o Grunge começou a perder forças, morrendo prematuramente junto ao seu suicídio em abril de 1994. Enquanto isso, uma nova invasão britânica estava acontecendo em várias frentes. Por um lado, o rock alternativo e melancólico do Radiohead, por outro o britpop baseado em guitarras do Oasis.

“A música independente, assim como a música alternativa, está associada a um conjunto de valores musicais, destacando-se a autenticidade, algo completamente oposto ao que está em vigor.”(Roy Shuker).

A volta ao básico, ao rock simples, “independente” e acima de tudo autêntico, mas sem necessariamente romper com a tecnologia dos dias de hoje, dá a tônica dos dias atuais. Strokes, White Stripes, Mars Volta, Kings of Leon, Jet, Franz Ferdinand, Interpol, Kaiser Chiefs, The Killers, Arctic Monkeys, entre outros, dão voz e gás ao movimento.

Em qualquer lugar do mundo, agora, um jovem está fazendo uma música, misturando novos ritmos, novos estilos, reciclando, fazendo alguma releitura, dando uma injeção de vida ao rock. Não, o rock não morreu...Como diria Kid Vinil, ele é atemporal. Foi até a UTI, agonizou, mas voltou e continua a se modificar e a ditar moda, atitude e comportamento.

Bom, pra mim, todo dia é dia de rock e pra você?

11 de ago. de 2009


“Partes de Mim”
(Marcelinho Hora)

Tão perto...
Tão Longe...
Quase...lá
Parte soltas, desmembradas...O meu eu solitário grita!
Divide...Mentiras contadas em voz alta...Cinema mudo
Aplausos vazios lançados de uma platéia morta
Glória!
Eco...dor...desespero
A Imaginação é apenas um elo perdido
Portas fechadas... Beco sem saída...
E todos os sonhos perdidos em um canto qualquer...
Há um pedaço em cada lugar
E uma lembrança...Uma lembrança perfeita...Será?
Quase lá....
Tão perto...
Tão longe...
Quase...lá!