21 de nov. de 2008

Album: The Beatles ou White Album.

Artista: The Beatles.

Produção: George Martin.

Lançamento: 1968.

Label: Apple Records.

Quanto: Em média, R$ 60,00.

Praticamente mais da metade dos discos dos Beatles são obras primas obrigatórias em qualquer discoteca roqueira e isso definitivamente está fora de discussão! Agora, se eu tivesse que escolher um para levar para uma ilha deserta, com certeza seria o "White Álbum".

"You say you want a revolution
Well you know
We all wanna change the world
You tell me that it's evolution
Well you know
"We all wanna change the world"
"Revolution 1" ( Lennon/McCartney )

Tempo, tempo, tempo...

O ano de 1968 foi um marco, um divisor de águas do século vinte. O mundo passava por grandes transformações. O avanço tecnológico, as incertezas da Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, o assassinato de Luther King, o fortalecimento do movimento Black Power e a juventude que tomava as ruas mundo afora, contestando os padrões estabelecidos de educação, moral, ética e estética. Foi um período marcado pela efervescência política, cultural e comportamental


Os jovens que clamavam por liberdade, se inspiravam nas idéias de Guy Debord e Jean Paul Sartre, no cinema da Nouvelle Vague, na música de Joplin, Hendrix, Who, Doors e nos ideais revolucionários marxistas. Queriam passar de meros coadjuvantes para protagonistas. Estabelecer novos valores, mudar, escrever sua própria história.

E no Brasil não foi diferente! Vivíamos sob a repressão do famigerado AI-5 (cujo "slogan" era "Brasil, ame-o ou deixe-o"), Nelson Motta lançava no jornal "Última Hora" o artigo intitulado "a Cruzada Tropicalista", definindo o movimento musical encabeçado por Caetano e Gil, no Rio de Janeiro acontecia a "Passeata dos 100 Mil" em oposição à ditadura militar e Caetano Veloso fazia seu famoso discurso no "Festival da Canção da Globo", após ter sua música, "É proibido proibir", vaiada pelo público jovem presente.

John e a banda, Paul e a banda, George e a banda...

Nessa época, os Beatles já não eram mais os mesmos. Aquela imagem do grupo de amigos, que saiu do anonimato dos bares undergrounds de Liverpool e conquistou o mundo, com sua música simples e direta, apenas tocando rock & roll, já não era mais a mesma. Naquele momento, a banda havia perdido seu ‘toque de Midas’. Amargaram um grande fiasco de bilheteria com o lançamento do filme "Magical Mystery Tour", John Lennon e Paul McCartney não compunham mais juntos, Yoko Ono era uma ‘pedra no sapato’ da banda e George Harrison clamava por mais espaço no grupo. George Martin, o produtor de todos os discos do quarteto até então, e considerado por muitos o quinto ‘Beatle’, foi quem conseguiu levar o grupo de volta ao estúdio de Abbey Road, onde iniciaram as sessões de gravação do "White Album". E Deus o abençoe por isso (kkkkkkkkkkkkkkk)!

Lançado em 22 de novembro de 1968, o "White Album" é o nono álbum oficial dos ‘Fab Four’. Esse disco traz o retorno do grupo ao rock simples e direto, dando adeus à fase psicodélica da banda e revelando ao mundo os caminhos do que seria a música Pop do início dos anos 70. 40 anos depois, este álbum continua um clássico absoluto! Arrisco destacar minhas favoritas, que são "Dear Prudence" (Lennon/McCartney), "Blackbird" (Lennon/McCartney), "Revolution 1"( Lennon/McCartney), "While my Guitar Gently Weeps"(Harrison), "Helter Skelter"(Lennon/McCartney), sem esquecer as deliciosamente bobinhas "Obla-di, Obla-da" (Lennon/McCartney) e "Piggies" (Harrison).

"...Blackbird singing in the dead of night...
Take these broken wings and learn to fly..
"All your life..."
"Blackbird" (Lennon/McCartney)

É como eu sempre digo: Quem não gosta de Beatles, bom sujeito não é!

19 de nov. de 2008

"1001 Discos para ouvir Antes de Morrer"

Autor: Robert Dimery

Editora: Sextante

Quanto? Preço médio R$ 60,00.

Quais seus discos preferidos? Qual a sua discoteca básica?

Quando você já passou da casa dos 35 anos e tem uma ligação forte com a música, sabe que listar 1001 discos não é uma tarefa das mais complicadas. Até parece, mas não é! Faça um teste, comece a fazer uma listinha mental dos seus preferidos e você vai perceber que não é tão complicado. Lembrará do que não pode ficar de fora, os clássicos eternos, tanta diversidade de sons, estilos, tantos que devem fazer parte, o medo de deixar algum de fora, e assim vai. E foi exatamente o que aconteceu comigo ao começar a ler "1001 Discos para ouvir Morrer".

Editado por Robert Dimery (Co-produtor de livros como ‘24 Hour Party People’, de Tony Wilson, ‘Pump Up The Volume: A History Of House’ e ‘Breaking Into Heaven: The Rise And Fall Of The Stone Roses’), com prefácio de Michael Lydon (Editor e Co-fundador da Rolling Strone, autor dos livros ‘Rock Folk’, ‘Boogie Lightning’, ‘Ray Charles: Man and Music’ e ‘Flashbacks’), "1001 Discos para ouvir Morrer" faz um apanhado da década de 50 até os dias de hoje, na sua grande maioria, do pop e do rock, mas com saudáveis inserções de clássicos do Jazz, Blues, Reggae e até de MPB.

Lado A

Esse livro nos leva a uma incrível viagem pelo mundo da música, proporcionado reencontros, seja com clássicos como ‘Kind of Blue’ de Miles Davis, ‘Love Supreme’ de Coltrane, ‘What’s Going On’ de Marvin Gaye, "In the Wee Small Hours" de Sinatra, "My Generation" do The Who, "Sargent Peppers..." dos Beatles, "Dark Side of the Moon" do Floyd e também com grandes descobertas. Para quem busca, como eu, novos sons, este "1001 Discos para ouvir Morrer" é um grande legado musical. Página a página você se depara com muita coisa que nunca tinha ouvido. Anote, escute, baixe, compre; há muita coisa bacana para se descobrir!

Lado B

Porém, da mesma forma que há riqueza de citações e informações, senti falta de muitas obras, daquelas que já estavam devidamente anotadas na minha ‘listinha’ (lembra? kkkkkkkkk) clássica! Mas sinceramente? Nada que se deva levar tão a sério. E vou mais além: se há uma forma de ler esse livro e tirar tudo de bom que ele realmente tem a nos oferecer, é não levá-lo tão a sério! É claro que você vai ficar indignado com a falta desse ou daquele disco, mas também vai dar boas gargalhadas com certas ‘pérolas’ presentes, como Britney Spears e o "Prince brasileiro" (what? kkkkkkk) Carlinhos Brown! Eu surtei quando não vi Chuck Berry, faltou "Out Of Time" do R.E.M, mas tem praticamente todos os discos do Radiohead (com exceção de "Pablo Honey"), o que beira a um certo exagero! Como uma boa e velha "lenda do metal" (isso é piada interna da diretoria...ahahahahahahahahah), senti falta de alguns clássicos como "Bonded by Blood" do Exodus (obra absoluta do Thrash Metal oitentista made in ‘Bay Area’), "Seven Churches" do Possessed, "Holy Diver" de Dio, entre outros. Outro estilo injustiçado foi o Blues. Sim, lá estão as obras de Robert Johnson, Muddy Waters e John Lee Hooker, mas resumir o Blues somente a esses três mestres? É um grande absurdo! Nomes como Buddy Guy, Júnior Wells, Lightning Hopkins, Stevie Ray Vaughan, BB King e Albert King não tiveram suas obras citadas, o que é uma grande contradição para um livro que quer ser referência. Mas agente respira, pondera e lembra que não vale à pena levar tudo tão a sério e percebe que assim, a diversão não acaba!

As fotos

O livro está recheado de fotos bacanas, com destaque para o trabalho de Trevor Clifford e Chris Mattison
, além da cessão de imagens históricas cedidas pela Referns Picture Library, Rex Features e Getty Images.

Vale muito à pena dar um pulo para a página de créditos das fotos (Pág.960) e saber um pouco mais sobre o trabalho fotográfico deste livro!

Saldo

"1001 Discos para ouvir Morrer" é muito bacana, uma leitura das mais agradáveis, mas que não se deve levar tão a sério e sim ser lido com calma, tomando um Jack Daniels e escutando música de primeira.

P.S: Esse é um daqueles livros que fazem parte do seleto grupo que eu carinhosamente apelidei de ‘Pequenas coisas inesquecíveis’, mas sobre isso eu falo em um outro momento.

12 de nov. de 2008

Entre - imagens

Estar entre amigos jogando conversa fora, acompanhado de uma trilha sonora bacana, é sempre um convite perfeito para falar sobre fotografia. Entre sonhos, ângulos e trocas de idéias e experiências, lembrei das referências que tive ao longo desses 15 anos fotografando. Nomes que me emocionam e ensinam sempre, que habitam meus sonhos e me dão fome de querer! Fotógrafos, cineastas, diretores, poetas, pensadores, pintores, filósofos. Mestres eternos! Resolvi então falar um pouco sobre isso, sobre esse seleto mundo de homens de atitude, que acreditaram em si, que foram adiante e fizeram a diferença, cada um com sua arte, com sua própria maneira de ver a vida e contar histórias. Vamos começar pela sétima arte...

Cinema x Fotografia

O cinema sempre foi um grande mestre! Resolvi falar um pouco dessa arte, da sua relação com a fotografia, de como ela nos ensina! Fiz uma relação de filmes incríveis que falam e têm uma fotografia primorosa. Filmes que eu não canso de ver, que me ensinam e vão me inspirar eternamente. Tantos não foram citados, mas com certeza terão seu espaço em uma próxima atualização. Por enquanto, cito alguns que vieram à tona nesse momento:

"Janela Indiscreta" (“Rear Window”, EUA, 1954) - O clássico de Alfred Hitchcock mostra a visão de um fotógrafo , que munido de sua teleobjetiva espiona os apartamentos vizinhos. Janela Indiscreta trabalha magistralmente com toda a amplidão da tela grande. Voyerismo elevado à sua máxima potência. Não tem muito que falar, veja!

“Depois Daquele Beijo” (“Blow-Up”, Inglaterra/ Itália, 1966) - Ao ampliar fotos suas feitas em um parque, um fotógrafo percebe que há um cadáver escondido nos arbustos. Obcecado, começa a investigar o caso e se vê envolvido em situações bizarras. Ele tenta elucidar o crime cercado de mistério, sem temer eventuais riscos. Um dos grandes representantes do ‘climax’ de todo um cinema feito na década de 60.


"Sob Fogo Cerrado" (“Under Fire”, EUA, 1983) - Russel Price (Nick Nolte), Claire (Joanna Cassidy) e Alex (Gene Hackman) são jornalistas que precisam cobrir uma guerra civil na Nicarágua que pode mudar o rumo de suas vidas. Excelente ficção sobre o trabalho e dramas de um repórter fotográfico, esse filme foi lançado em DVD recentemente.

“Insustentável leveza do ser” (“The Unbearable Lightness of Being”, EUA, 1988) – A adaptação do best-seller de Milan Kundera, conta a história de Tomas (Daniel Day-Lewis), um médico mulherengo que evita se envolver emocionalmente, mas que conhece Tereza (Juliette Binoche), com quem acaba se casando. Eles moram em Praga e a invasão russa de 1968 faz com que partam para Genebra. Suas vidas mudam bruscamente e eles têm dificuldades de se adaptar à nova realidade, longe de casa. O filme usa muita sensualidade para expressar as personalidades, sentimentos e relacionamentos dos personagens. Indicado ao Oscar de melhor fotografia, em 1988.

"A Testemunha Ocular" (“Public Eye”, EUA, 1992) - Na Nova York dos anos 40, fotógrafo sensacionalista se envolve com dona de boate. Com Joe Hershey, sobre o trabalho do fotógrafo Marele Berzini nos anos 40.

“Antes da chuva” (“Pred Dozhdot”, Reino Unido/ França/ República da Macedônia, 1994) - Três histórias misturam-se, tendo como pano de fundo a complicada situação política da Macedônia, criando um perfil claro do que é a Europa moderna. Destaque para o segundo conto, que mostra a situação extrema de pobreza e do caos da Macedônia, quando um fotógrafo exilado trabalha na guerra.

“A Pele” (“Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus”, EUA, 2006) - O filme conta como Diane Arbus (Nicole Kidman) encontrou dentro de si mesma as características que a transformaram de tímida mãe de família a uma das fotógrafas mais festejadas do século 20. Baseado em biografia escrita por Patricia Bosworth (também produtora do filme), o longa aponta a relação de Diane com o enigmático vizinho Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.) como acontecimento que marca seu envolvimento com a até então marginalizada categoria de fotógrafos, essencial para seu desenvolvimento artístico.

“A Conquista da Honra” (“Flags of Our Fathers”, EUA, 2006) - Esse filme mostra a história real dos seis soldados que ergueram a bandeira norte-americana na batalha de Iwo Jima, decisiva na Segunda Guerra Mundial. Mas há uma história fotográfica por trás da história do próprio filme. A clássica foto de Joe Rosenthal, feita em 1945, não passou de uma grande farsa, talvez a maior de todos os tempos! Rosenthal chegou atrasado ao topo do monte Suribachi, onde foi erguida a bandeira, e pediu aos fuzileiros que repetissem a cena inúmeras vezes para fotografar. Joe Rosenthal ganhou o prêmio Pulitzer de fotografia e a foto em Iwo Jima chegou a ser considerada a “foto do Século XX”.

“Cartas de Iwo Jima” (“Letters From Iwo Jima”, EUA, 2006) - Este filme dialoga diretamente com “A Conquista da Honra”, outra produção dirigida por Clint Eastwood. O filme conta a mesma história da batalha de Iwo Jima, mas o desenvolvimento da narrativa corre pelo ponto de vista dos soldados japoneses que participaram do conflito. Fantástico!

“Sangue Negro” (“There Will Be Blood”, EUA, 2007) – Dirigido por Paul Thomas Anderson, o mesmo diretor de “Magnólia” e ”Embriagado de Amor”, o excelente ‘Sangue Negro’, traz Daniel Day-Lewis em um dos grandes momentos de sua carreira, como um magnata do petróleo que tenta ensinar ao filho (Dillon Freasier) os princípios básicos da vida, como família, ambição e riqueza nos negócios. A fotografia de Robert Elswit (de “Syriana - A Indústria do Petróleo“ e “Boa Noite e Boa Sorte“) é simplesmente fabulosa, usando dos tons quentes de laranja que destacam a secura dos desertos explorados por Daniel que - talvez não por acaso - leva o sobrenome ‘Plainview’ (algo como "visão ampla, plena"). No final do filme (créditos) você ainda pode acompanhar fotos da época, um desfile impressionante, dando um ‘grand finale’ a este filme simplesmente imperdível!

Ah! Faço aqui uma menção honrosa a Akira Kurosawa, pois todos os seus filmes possuem uma fotografia impressionante! Kurosawa é famoso por desenhar ‘storyboards’ de todas as cenas de seus filmes. Estes títulos estão disponíveis em DVD! Se você ainda não percebeu a escola que o cinema é, a base que ela dá para a fotografia, talvez seja o momento de prestar um pouco mais atenção e viajar no mundo da sétima arte, que tal?